segunda-feira, 6 de dezembro de 2010

Cultura Brega

Um paralelo entre a raiz, a contemporaneidade e seu verdadeiro valor na cultura musical brasileira.

Dentre os estilos da música Brega, uma questão polêmica vem estendendo-se em nível de conceituação de um mesmo mote, que tomou rumos distintos. Entre o Brega de raiz e o Brega “universitário”, há diferenças. O de raiz vem de uma história de velha guarda com cunho de MPB, uma música chorada e apreciada pelas pessoas de alma sensível. O Brega “universitário” por sua vez, vem de um conceito também pautado nas histórias de traições e decepções amorosas, sendo que mais exposto numa cultura sexista, na utilização palavras de baixo calão, o que vem a destruir a concepção do Brega de raiz, já considerado um estilo simplório desde tempos passados.
O Brega de raiz vem sido relido ao longo dos anos por muitos cantores brasileiros consagrados, como Caetano Veloso, Cazuza e Diogo Nogueira, sendo este último, recentemente criticado por introduzir no samba de raiz elementos da música brega, ainda mais sendo ele filho do renomado sambista João Nogueira. Mas o Brega “universitário” hoje apreciado pelas classes A e B, vem insinuando-se como mais um movimento cultural incluso na MPB. E isso tem gerado uma polêmica nos meios críticos musicais e por jornalistas conhecedores do que há de melhor na nossa música.
O Brega é Brega. Sendo reconhecido assim, poderá então fazer jus a seu nome, assumir-se. Ser visto como MPB, só o faz perder sua característica.
Como a mídia sempre costuma impor rótulos aos estilos musicais, agora há o separatismo entre essa vertente. Brega de raiz ou “universitário”.
Em entrevista ao cantor Conde do Brega, em evento do gênero em Recife, levantou-se a questão do rótulo. O cantor que considera o som que vem cantando mais uma vertente da MPB irrita-se quando perguntamos o que ele acha desse rótulo que a mídia impõe. Já Reginaldo Rossi, também em entrevista, responde altivo que nele o brega é orgânico. Não existe o separatismo. O Brega está em sua alma. O Rei esquiva-se completamente desses conceitos. Ao subir ao palco, mostra a que veio. Ser Rei do Brega. Isso basta. Sua majestade presencial diz tudo quando ele dedica-se ao seu público. Reginaldo Rossi é de fato uma estrela, porque assume esse caráter em cena e assim é reconhecido como tal. Dentro de seu universo cafona, ressalta que o Brega é chique.
A questão é saber qual o valor musical e cultural a ser considerado nesses dois universos. Qual seria o verdadeiro acréscimo do Brega à cultura brasileira, já que as artes existem para enriquecer culturalmente o ser humano.
A estética desse gênero incomoda aos mais cultos, mas as classes A e B, massificadas pela mídia, não só ouvem como entendem desse rótulo. O Brega “universitário” vem apropriar-se do título aparentemente comportado e associado ao marketing e a tecnologia, sendo consumido por uma geração de “Patricinhas e Mauricinhos” que estão a fim de curtir um estilo musical bem mais popularesco fora das salas de aula. Mas o público que reconhece o brega “universitário”, desconhece as considerações do valor musical de um Vicente Celestino e de um Valdick Soriano, tão importantes e considerados por críticos como precursores do Brega e também reconhecidos pela MPB brasileira. E é assim que esse público ouve, curte e consome essa música. Simplesmente nem sabem de onde veio, como surgiu e nem quem são seus maiores compositores. Essa mesma música brega que os alunos escutam em seu ambiente, é também muito apreciada nas festas dos altos e morros das periferias de Recife e de muitos outros estados brasileiros.
Esse rótulo universitário vem encobrir-se diante das outras músicas Bregas como o Funk carioca das cachorras, o Arrocha baiano, o Axé Music, o Tecnobrega da região Norte do Brasil, e tantos outros estilos que surgiram e esvaíram-se naturalmente. A música como a lambada, foi um boom de sucesso nas paradas radiofônicas que sumiu em pouquíssimo tempo, por não ter a consistência cultural devida. Isso é só uma questão de estratégia de direcionamento de público alvo. Chamado de “universitário”, as vendas desse produto cultural, irá atingir a uma classe mais elitizada e vender a pessoas capazes de consumir o produto, que fatalmente não irá deixar de atingir também a classe mais baixa, que deseja estar inserida nesta mais favorecida.
O público brasileiro é livre de preconceito musical. Ele ouve tudo o que lhe oferecem e na maioria dos casos aderem ao que escutam. Tanto que a boa música é também ouvida em todas as classes sociais. Um exemplo vivo disso é o cantor Gilberto Gil, que quando faz show em qualquer canto do Brasil, lota a platéia. E no Brasil há essa pluralidade rítmica e variada em torno de sua cultura, já que somos um País subdesenvolvido. Então porque proibir que se dissemine esse tipo de som?
Algumas considerações: Cultura sexista de desmoralização da imagem da mulher, terminologias vulgares utilizadas nas letras das músicas, as roupas que as cantoras e bailarinas utilizam em seus shows, tudo isso vem formar opinião de maneira negativa para a nossa população, que adere ao estilo e os põe em suas vidas, dentro de suas casas com o som no mais alto volume. Se uma criança cresce ouvindo esse tipo de música, seu universo cultural passa a ser o que ela vem ouvindo.
Sabe-se que desde os anos 80, a música brega tem vários estilos que imitam os originais ritmos regionais estereotipando-os e tentando chegar também ao sul maravilha, como conseguiu com sucesso, a Banda Calipso, com apoio da rede Globo, mais especificamente no programa do Faustão.
A partir dos anos 90, a classe popular adere ao estilo fortalecendo esse mercado e seus milionários empresários. Ao se oferecer tal produto, o público que consome faz desse estilo uma moda, na maneira de vestir e comportar-se. Aí os ritmos originais e folclóricos perdem a vez e com isso, são menos valorizados.
O rótulo “universitário”, feito para conquistar o público jovem de classe média, vem assim desmobilizar o conteúdo culto desses jovens e não permitir seu desenvolvimento cultural, fazendo-os aceitar as medidas impostas dentro de uma política que filtra o que se pode oferecer de boa qualidade em conteúdos aos jovens deste País.
Quem não ouve boa música, não tem o discernimento de pensar de forma mais politizada e consciente.
E haja jabá!

Daniela Câmara.

Nenhum comentário:

Postar um comentário