segunda-feira, 6 de dezembro de 2010

Entrevista com Conde da Banda Só Brega



Um dos maiores ícones do cenário Brega estadual, o Conde troca algumas ideias com o nosso blog sobre a sua carreira e a essência do seu trabalho

Por Camila Fernanda

1. Quando você resolveu virar cantor de brega?
R: Desde cedo sempre fui apaixonado pela música independente do ritmo então decidi levar a música para toda a minha vida. Quando jovem cantava em barzinho e nas festas dos amigos e todos diziam que eu deveria ser cantor profissional mas no começo nem ligava muito pra o que eles falavam até que um dia o produtor da Banda só Brega me viu cantando em um barzinho e me fez o convite para cantar na banda eu na hora fiquei meio em duvida se queria ou não mas resolvi arriscar e estou até hoje.


2. Quais as maiores dificuldades que você enfrentou no começo da carreira?
R: no começo o novo sempre assusta por isso nunca encarei as coisas como se fosse dificuldade, mas sim como aprendizagem. Mas acredito que nada começo é fácil principalmente quando as pessoas não acreditam no seu potencial e na sua qualidade não vou mentir no começo levei muito porta na cara, mas aquilo só me dava mais coragem de ir atrás do meu sonho que era cantar.


3. Para você qual a essência do brega raiz?
R: pra mim a essência é a simplicidade na linguagem, na hora de expor os sentimentos, nos apelos de socorro ao coração mal-amado, nas lembranças do amor que se foi, da traição que jamais vai ser esquecida e da paixão reprimida caracterizando assim a verdadeira essência.


4. Em sua opinião porque o brega ainda é visto com maus olhos pela sociedade?E o que pode ser feito para mudar essa imagem?
R: Em primeiro lugar não é todo tipo de brega que considero discriminado pela sociedade existem bandas consagradas que lotam casas de show e a sociedade não repudia que são elas: Labaredas, Reginaldo Rossi, Só Brega e entre outras que se utilizam do brega raiz e existem bandas que surgiram atualmente que preferem deixar a essência de lado e buscar temas mais agressivos e que o enfoque maior não seja o amor.Já para mudar essa imagem acredito que as bandas só tocam essas musicas “pesadas” e agressivas porque pessoas gostam de escutar então acho que para mudar essa imagem a sociedade deveria em primeiro lugar para de escutar e não valorizar esse tipo de música que dizer se eles acham que música é isso mas vai da cabeça de cada um.


5. Por que as bandas estão deixando o brega raiz de lado?
R: Foi como eu falei mas acima e repito eles preferem tocar o que chama atenção e o que pessoas gostam de escutar se eles cantam músicas denegrindo a imagem da mulher e usando palavras de baixo escalão é porque tem classes sociais que curtem esse tipo de música não tenho nada contra nem a favor as pessoas estão tem o livre arbítrio para cantar o que quiser mas não me passaria por isso nem por um milhão.


6. Existe alguma diferença em fazer show para classes sociais diferentes?
R: não vejo diferença alguma, pois quem vai aos shows são pessoas de quaisquer profissões e de qualquer categoria social, podendo incluir pessoas com diferentes situações de classe, vocações diversas e diferentes níveis de riqueza material. Logo, a massa é um grupo anônimo e, os grupos socias têm pouca interação ou troca de experiência entre os mesmo. Em geral, encontram-se fisicamente separados e, por serem anônimos, não dispõem da oportunidade de se misturar como fazem os participantes de uma multidão.


7. Nesses anos todo de carreira você já pensou em parar de cantar?
R: Nunca pensei e até agora não me passou pela cabeça, mas acho que todo mundo que vive no mundo da música sabe sua hora de parar, mas a minha não chegou ainda não. Até porque o corpo chega em uma hora que não vai agüentar o ritmo de show e nem as noites sem dormi por isso me cuido bastante pra poder aguentar o pique.


8. Você esperava que o brega deixasse de ser um gosto musical apenas das classes A e B?
R: acredito que todo mundo que canta brega espera isso mas de certa forma as pessoas não curtem o brega como amantes das músicas não mas sim porque o brega esta chegando e invadindo o território de classes mais elevadas como já temos hoje bandas fazendo shows em Boa viagem mas isso não significa que as pessoas gostam ou curte aquele tipo de musical e se curtem é uma coisa momentânea e não de comprar CD e escutar em casa.


9. Defina o que o brega representa pra você e como você preserva esse gosto musical?
R: Ele representa boa parte da minha vida já que estou ligado a ele 24 horas no ar e na verdade gosto de estar ligado a ele e não escondo isso de ninguém preservo meu gosto musical e o brega raiz nas letras das músicas que componho pra banda, ou seja, amo cantar musicas que falem de amor e que expressem a verdadeira paixão simplesmente, mas musicas tem sempre um pouco do conde(risos).

Cultura Brega

Um paralelo entre a raiz, a contemporaneidade e seu verdadeiro valor na cultura musical brasileira.

Dentre os estilos da música Brega, uma questão polêmica vem estendendo-se em nível de conceituação de um mesmo mote, que tomou rumos distintos. Entre o Brega de raiz e o Brega “universitário”, há diferenças. O de raiz vem de uma história de velha guarda com cunho de MPB, uma música chorada e apreciada pelas pessoas de alma sensível. O Brega “universitário” por sua vez, vem de um conceito também pautado nas histórias de traições e decepções amorosas, sendo que mais exposto numa cultura sexista, na utilização palavras de baixo calão, o que vem a destruir a concepção do Brega de raiz, já considerado um estilo simplório desde tempos passados.
O Brega de raiz vem sido relido ao longo dos anos por muitos cantores brasileiros consagrados, como Caetano Veloso, Cazuza e Diogo Nogueira, sendo este último, recentemente criticado por introduzir no samba de raiz elementos da música brega, ainda mais sendo ele filho do renomado sambista João Nogueira. Mas o Brega “universitário” hoje apreciado pelas classes A e B, vem insinuando-se como mais um movimento cultural incluso na MPB. E isso tem gerado uma polêmica nos meios críticos musicais e por jornalistas conhecedores do que há de melhor na nossa música.
O Brega é Brega. Sendo reconhecido assim, poderá então fazer jus a seu nome, assumir-se. Ser visto como MPB, só o faz perder sua característica.
Como a mídia sempre costuma impor rótulos aos estilos musicais, agora há o separatismo entre essa vertente. Brega de raiz ou “universitário”.
Em entrevista ao cantor Conde do Brega, em evento do gênero em Recife, levantou-se a questão do rótulo. O cantor que considera o som que vem cantando mais uma vertente da MPB irrita-se quando perguntamos o que ele acha desse rótulo que a mídia impõe. Já Reginaldo Rossi, também em entrevista, responde altivo que nele o brega é orgânico. Não existe o separatismo. O Brega está em sua alma. O Rei esquiva-se completamente desses conceitos. Ao subir ao palco, mostra a que veio. Ser Rei do Brega. Isso basta. Sua majestade presencial diz tudo quando ele dedica-se ao seu público. Reginaldo Rossi é de fato uma estrela, porque assume esse caráter em cena e assim é reconhecido como tal. Dentro de seu universo cafona, ressalta que o Brega é chique.
A questão é saber qual o valor musical e cultural a ser considerado nesses dois universos. Qual seria o verdadeiro acréscimo do Brega à cultura brasileira, já que as artes existem para enriquecer culturalmente o ser humano.
A estética desse gênero incomoda aos mais cultos, mas as classes A e B, massificadas pela mídia, não só ouvem como entendem desse rótulo. O Brega “universitário” vem apropriar-se do título aparentemente comportado e associado ao marketing e a tecnologia, sendo consumido por uma geração de “Patricinhas e Mauricinhos” que estão a fim de curtir um estilo musical bem mais popularesco fora das salas de aula. Mas o público que reconhece o brega “universitário”, desconhece as considerações do valor musical de um Vicente Celestino e de um Valdick Soriano, tão importantes e considerados por críticos como precursores do Brega e também reconhecidos pela MPB brasileira. E é assim que esse público ouve, curte e consome essa música. Simplesmente nem sabem de onde veio, como surgiu e nem quem são seus maiores compositores. Essa mesma música brega que os alunos escutam em seu ambiente, é também muito apreciada nas festas dos altos e morros das periferias de Recife e de muitos outros estados brasileiros.
Esse rótulo universitário vem encobrir-se diante das outras músicas Bregas como o Funk carioca das cachorras, o Arrocha baiano, o Axé Music, o Tecnobrega da região Norte do Brasil, e tantos outros estilos que surgiram e esvaíram-se naturalmente. A música como a lambada, foi um boom de sucesso nas paradas radiofônicas que sumiu em pouquíssimo tempo, por não ter a consistência cultural devida. Isso é só uma questão de estratégia de direcionamento de público alvo. Chamado de “universitário”, as vendas desse produto cultural, irá atingir a uma classe mais elitizada e vender a pessoas capazes de consumir o produto, que fatalmente não irá deixar de atingir também a classe mais baixa, que deseja estar inserida nesta mais favorecida.
O público brasileiro é livre de preconceito musical. Ele ouve tudo o que lhe oferecem e na maioria dos casos aderem ao que escutam. Tanto que a boa música é também ouvida em todas as classes sociais. Um exemplo vivo disso é o cantor Gilberto Gil, que quando faz show em qualquer canto do Brasil, lota a platéia. E no Brasil há essa pluralidade rítmica e variada em torno de sua cultura, já que somos um País subdesenvolvido. Então porque proibir que se dissemine esse tipo de som?
Algumas considerações: Cultura sexista de desmoralização da imagem da mulher, terminologias vulgares utilizadas nas letras das músicas, as roupas que as cantoras e bailarinas utilizam em seus shows, tudo isso vem formar opinião de maneira negativa para a nossa população, que adere ao estilo e os põe em suas vidas, dentro de suas casas com o som no mais alto volume. Se uma criança cresce ouvindo esse tipo de música, seu universo cultural passa a ser o que ela vem ouvindo.
Sabe-se que desde os anos 80, a música brega tem vários estilos que imitam os originais ritmos regionais estereotipando-os e tentando chegar também ao sul maravilha, como conseguiu com sucesso, a Banda Calipso, com apoio da rede Globo, mais especificamente no programa do Faustão.
A partir dos anos 90, a classe popular adere ao estilo fortalecendo esse mercado e seus milionários empresários. Ao se oferecer tal produto, o público que consome faz desse estilo uma moda, na maneira de vestir e comportar-se. Aí os ritmos originais e folclóricos perdem a vez e com isso, são menos valorizados.
O rótulo “universitário”, feito para conquistar o público jovem de classe média, vem assim desmobilizar o conteúdo culto desses jovens e não permitir seu desenvolvimento cultural, fazendo-os aceitar as medidas impostas dentro de uma política que filtra o que se pode oferecer de boa qualidade em conteúdos aos jovens deste País.
Quem não ouve boa música, não tem o discernimento de pensar de forma mais politizada e consciente.
E haja jabá!

Daniela Câmara.

domingo, 5 de dezembro de 2010

O Brega na Classe A

Diferente dos tempos de outrora, o Brega hoje possui espaço nas mais altas classes sociais. O fenômeno que acontece bem longe da grande mídia está ganhando cada dia mais espaço entre os brasileiros de alta classe social, quebrando as barreiras do preconceito.




O vídeo abaixo foi gravado em um evento no Marco Zero. Os músicos contam como conseguiram esse espaço mesmo com pouco apoio do mercado fonográfico.




A antropóloga e professora Mariana Caminha também comenta sobre o assunto



Depoimento de Mittó, vocalista da Banda Labaredas




Galeria de Imagens

Perfil - Michelle Melo



Cabelos loiros, lisos e compridos, alta, 72 quilos e de seios fartos, Michele Melo é dona de uma simpatia enorme, de 50% da Banda Metade, onde faz grande sucesso, e é empresária da Banda Forrozão Fetiche. A cantora mora em Campina do Barreto, no Arruda, e tem uma filha de quatro anos, fruto de um casamento que não durou. Está solteira e diz que não pretende se casar novamente.
Desde criança, minha paixão sempre foi cantar. Eu pegava o desodorante, ia para frente do espelho e ficava cantando e dançando. Nunca trabalhei antes de entrar para o mundo da música e só estudei até o 2° grau. Hoje acho que não tenho mais idade para voltar aos estudos.
Comecei minha carreira cantando em bandas de baile. Depois passei dois anos na Banda Cabaré.  Foi quando recebi um convite para cantar na Banda Metade, onde passei cinco anos e obtive grande reconhecimento do público. Mas não estava satisfeita com o retorno financeiro e resolvi sair para montar a minha própria banda, a Forrozão Fetiche, assim eu achava que ganharia mais dinheiro. Depois o dono da Banda Metade resolveu me dar 50% dos lucros se eu decidisse voltar. Eu aceitei e permaneço  até hoje cantando na Metade.
Eu tenho uma vida super normal. Saio às ruas para fazer compras tranquilamente, saio com meus amigos para me divertir e adoro quando meus fãs me reconhecem. É sempre muito bom quando somos reconhecidos e queridos pelo nosso trabalho. Conheço dez fãs meus que têm meu nome tatuado no corpo, e isso é muito satisfatório pra mim.
Um dia de show é um dia comum como outro qualquer. Acordo às 7h, preparo meu café da manhã e o da minha filha. Tenho uma dieta bem saudável e já acostumo minha pequena da mesma maneira. Faço uma mesa farta com frutas, queijo, leite, suco e pães integrais. Eu tenho uma alimentação balanceada, primeiro porque eu preciso estar em forma, pois minha profissão exige isso de mim; segundo que é importante se alimentar bem para não ficar doente. Depois que como, levo minha filha para a escola e volto para ensaiar o show que vai acontecer à noite.
Na hora do almoço já tenho uma ajudante na cozinha, preparando a refeição. Coloco na mesa arroz integral, peito de frango grelhado, uma bandeja de salada, frutas e suco. Nada de gordura nem de refrigerante, só em ocasiões especiais. Depois que como, coloco minha filha pro banho e vou assistir televisão. Descansamos um pouco e depois ajudo minha pequena nas tarefas que vêm da escola. Tenho que cobrar mesmo, não posso acostumar minha filha só com lazer, tenho  que mostrar pra ela que estudar é importante. Não quero que ela cresça com preguiça de ler e fazer as tarefas.
À noite eu ligo para o produtor da Banda Metade, procurando saber se está tudo certo para o show. Aí começo a organizar minhas roupas e maquiagem na mala e espero o ônibus da banda. Minha filha fica sob os cuidados da minha secretária. Ainda é muito nova para frequentar meus shows.
 Chegando no camarim começo  a vestir minha roupa e eu mesma ajeito meu cabelo e faço minha maquiagem. No palco é pura emoção. Meus olhos brilham quando vejo meus fãs gritando, cantando minhas músicas inteiras. Na platéia vejo um misto de classes A, B, C e D. E eu fico feliz com isso, porque antes o brega era considerado como divertimento dos pobres e hoje existe essa mistura. 
Quando acaba o show eu agradeço ao público pela presença e sigo até o camarim. Lavo o rosto, troco de roupa e vou pro ônibus, onde vou dormindo até a minha casa. Chegando, vou deitar perto da minha filha e no outro dia tudo acontece como de costume.

Brega S/A

Gravado entre os anos de 2006 e 2009, o documentário Brega S/A fala sobre a cena tecnobrega de Belém do Pará. Feito por artistas pobres, gravado em estúdios de fundo de quintal e com relações profundas com a pirataria e a informalidade, o tecnobrega é a trilha sonora da periferia da cidade, uma espécie de adaptação digital da música romântica dos anos 70 e 80.

No filme, vemos qual a relação entre o tecnobrega e a popularização da tecnologia a partir do final da década de 90, bem como a maneira como esse estilo musical se associou à pirataria para criar uma rede de distribuição alternativa ao modelo proposto pelas grandes gravadoras.

Entre os principais personagens estão o MC de tecnobrega Marcos Maderito, o "Garoto Alucinado"; DJ Maluquinho, uma espécie de Iggy Pop brega da periferia de Belém; e os DJs Dinho, Ellysson e Juninho, ídolos das aparelhagens, enormes sistemas de som que realizam festas itinerantes pelos bairros mais pobres da cidade.

Direção, roteiro e edição: Vladimir Cunha e Gustavo Godinho

Direção de fotografia: Gustavo Godinho

Assistencia de Edição: André Morbach e Brunno Regis

Produção executiva: Priscilla Brasil

Produção: Teo Mesquita

Assistente de produção: Carlos Lobo e Brunno Regis

Som direto: Fábio Carvalho

Uma produção Greenvision Films


Aqui você confere o documentário dividido em seis partes, no Youtube